As locadoras de veículos no Brasil têm se mostrado um setor resiliente e lucrativo, mesmo diante de crises econômicas e desafios do mercado automotivo. Com uma frota que ultrapassa 1 milhão de veículos, essas empresas não apenas sobreviveram à pandemia, mas também prosperaram, alcançando um faturamento bruto de 36,8 bilhões de reais em 2022, um crescimento de 109% em relação a 2020.
Mas o que muitos não sabem é que o verdadeiro lucro das locadoras não vem majoritariamente da locação de carros, mas sim de um esquema bem estruturado e legal que envolve a compra, aluguel e venda de veículos.
Como as Locadoras Realmente Ganham Dinheiro?
As locadoras de veículos têm acesso a benefícios que o consumidor final não possui, como a compra direta de carros das fábricas em grandes lotes e com descontos significativos, que podem variar entre 15 e 30%. Além disso, elas se beneficiam de vendas diretas com isenções fiscais, como ICMS e IPI reduzidos, o que permite que comprem veículos por um valor muito mais baixo do que o mercado varejista.
Após a aquisição dos veículos, as locadoras os alugam para diversos públicos, incluindo pessoas físicas, órgãos públicos e privados, e motoristas de aplicativos. No entanto, a grande sacada do negócio está na renovação constante da frota, que leva à venda dos carros usados, muitas vezes em lojas próprias das locadoras ou para concessionárias de veículos seminovos e usados.
A Venda de Veículos Usados: O Pilar do Lucro
Embora representem apenas uma pequena fração do mercado de seminovos e usados, as vendas de carros por locadoras são significativas e altamente lucrativas. Em 2021, as locadoras venderam cerca de 250 mil carros, e muitas lojas de usados adquirem esses veículos em grandes lotes das locadoras. A estratégia de comprar barato, alugar e depois vender com uma boa margem de lucro é o que sustenta o modelo de negócio dessas empresas.
Legalidade e Impacto no Mercado
Apesar de haver questionamentos sobre os benefícios fiscais concedidos às locadoras, as operações são legais e regulamentadas. O Supremo Tribunal Federal (STF) já decidiu sobre a validade da cobrança de ICMS na venda de automóveis por locadoras, e há projetos de lei em discussão para ajustar o prazo mínimo de venda dos veículos. O Convênio ICMS nº 64 de 07/07/2006 do Confaz estabelece regras para a venda de veículos antes de 12 meses da aquisição, garantindo a arrecadação de impostos pelo estado do comprador.
Enquanto a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) argumenta que as locadoras pressionam as margens do setor de seminovos e usados, a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla) defende que a venda dos veículos é necessária para a renovação da frota e que o impacto no mercado é mínimo, visto que os carros de locadoras representam apenas 3% das vendas.
Vale a Pena Comprar um Seminovo de Locadora?
Comprar um veículo seminovo de uma locadora pode ser uma opção atraente para muitos consumidores. Esses carros geralmente são mais novos, bem conservados e completos, mesmo os modelos de entrada. Além disso, as locadoras oferecem a vantagem de veículos revisados e prontos para entrega, com a possibilidade de financiamento na própria concessionária.
Contudo, há considerações a serem feitas, como o fato de que carros de locadora foram utilizados por várias pessoas e para fins diversos, o que pode gerar preocupações quanto ao cuidado e manutenção do veículo. É essencial que o consumidor se informe bem sobre o histórico do carro e, se possível, leve-o a um mecânico especializado para uma avaliação antes da compra.
Em resumo, o “Grande ESQUEMA das Locadoras de Veículos” é um modelo de negócio legal e lucrativo que se baseia na compra vantajosa, locação e venda estratégica de veículos. Para o consumidor, a compra de um seminovo de locadora pode ser um bom negócio, desde que se faça uma análise cuidadosa do veículo em questão.