Nas últimas semanas, a discussão sobre a correia banhada em óleo dos motores 1.0 turbo de três cilindros da Chevrolet voltou a ganhar destaque, impulsionada por vídeos que mostram pátios cheios de modelos Onix, Onix Plus e Tracker aguardando manutenção ou liberação. Afinal, há mesmo um “desespero” na General Motors?
Neste artigo, você vai entender como a escolha desse componente, que deveria representar evolução tecnológica, acabou gerando um gargalo de produção, reclamações de usuários e riscos financeiros para concessionárias e consumidores. Ao longo das próximas linhas, vamos destrinchar a causa, os impactos e as possíveis soluções, sempre com dados concretos, casos reais e orientações práticas.
1. Entendendo a correia banhada em óleo nos motores 1.0 Turbo da Chevrolet
O que é a correia banhada em óleo
A correia banhada em óleo, conhecida como “belt in oil” (BIO), é uma evolução da correia dentada tradicional. Ela circula no interior do cárter, imersa no óleo lubrificante do motor, recebendo refrigeração e reduzindo atrito. Teoricamente, oferece menor ruído, mais eficiência e intervalos de troca superiores a 150.000 km, segundo os manuais.
Vantagens prometidas x realidade prática
Na prática, os motores tricilíndricos 1.0 turbo (códigos CSS Prime e CSS Prime II) passaram a apresentar desgaste prematuro da correia a partir de 30.000 km. Fragmentos de borracha contaminam o lubrificante, entopem pescadores e galerias, resultando em pressão de óleo baixa, falhas de lubrificação e, nos casos extremos, travamento do motor. Dados levantados por oficinas independentes de São Paulo indicam que cerca de 18% dos veículos fabricados entre 2020 e 2022 retornaram com algum sintoma relacionado.
Caixa de destaque #1 – Cronologia resumida
• 2019: Lançamento do motor 1.0 turbo com correia banhada em óleo.
• 2021: Primeiras reclamações em fóruns sobre ruído metálico.
• 2022: Serviços internos nas concessionárias passam a exigir inspeção a cada 10.000 km.
• 2023: Vídeos revelam pátios da GM lotados de unidades aguardando reparo.
2. O problema dos pátios lotados: gargalo logístico ou falha de engenharia?
Dados de produção e estoque
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí, a planta da GM chegou a operar dois turnos extras em 2023 para atender à fila de espera do Onix. Porém, o acúmulo de veículos ficou evidente quando centenas de unidades foram estacionadas em áreas externas aguardando peças de reposição. Estima-se que, em agosto de 2023, o pátio chegou a abrigar mais de 4.000 veículos.
Comparação com outras montadoras
Vale lembrar que Ford, Peugeot e Citroën também adotaram correias imersas, mas não registraram volume crítico de retorno. A diferença, segundo especialistas, é que essas marcas usam compostos de borracha com maior resistência a aditivos detergentes presentes no óleo.
Sistema de sincronismo | Vantagens | Desvantagens |
---|---|---|
Correia seca | Baixo custo, manutenção simples | Troca aos 60-80 mil km, ruído |
Correia banhada em óleo | Ruído mínimo, eficiência energética | Contamina óleo, exige óleo específico |
Corrente metálica | Durabilidade, raramente troca | Peso maior, custo de reparo alto |
Cadeia híbrida (VW Evo) | Combina correia e engrenagens | Projeto complexo |
Engrenagens diretas | Precisão extrema | Uso restrito a motores Diesel pesados |
Caixa de destaque #2 – Indicadores logísticos
• Capacidade nominal do pátio de Gravataí: 2.200 carros.
• Pico registrado (ago/23): >4.000.
• Tempo médio de permanência: 18 dias.
• Meta da GM: reduzir para 7 dias até final de 2024.
“O desafio não é apenas substituir a correia, mas gerenciar a cadeia de suprimentos e treinar mecânicos para um procedimento que leva quase 12 horas.” – Eng. Celso Mendes, consultor powertrain e ex-engenheiro da GM Powertrain.
3. Impactos para o consumidor: atrasos, custos e riscos de garantia
Casos reais de proprietários
João Batista, motorista de aplicativo de Belo Horizonte, viu seu Onix Plus 2021 (72.000 km) apresentar luz de pressão de óleo. O carro ficou 28 dias na concessionária para troca da correia, filtro, bomba e turbina. Apesar da garantia, o período parado representou perda de renda de R$ 4.200, segundo relato em audiência do Procon-MG. Situações semelhantes surgiram em grupos de Facebook e a hashtag #correiabonitadaemoleo alcançou 1,7 milhão de visualizações no TikTok até janeiro de 2024.
- Perda de mobilidade – veículo parado no pátio ou oficina.
- Desvalorização – percepção negativa afeta preço de revenda.
- Custo indireto – aluguel de carro substituto ou transporte.
- Possível negação de garantia – quando o óleo não segue norma Dexos1 Gen2.
- Riscos mecânicos – contaminação pode levar a retífica completa.
- Tempo de espera por peças – média de 15 dias em regiões Norte/Nordeste.
- Stress jurídico – necessidade de acionar justiça para indenização.
- Cheque se o plano de revisão foi seguido à risca.
- Guarde todas as notas fiscais de troca de óleo.
- Exija laudo fotográfico da correia na revisão de 30k km.
- Solicite carro reserva conforme o Código de Defesa do Consumidor.
- Adote lubrificante homologado, mesmo fora da concessionária.
4. Análise técnica: por que a correia danifica e contamina o óleo?
Materiais e composição química
A correia é feita de borracha HNBR com fibras de vidro. No laboratório do Instituto Mauá de Tecnologia, amostras usadas mostraram micro-fissuras causadas por swell químico quando expostas a óleos contendo alto teor de cálcio dispersante. Já a rebarba gerada pela raspagem dos dentes se deposita nas galerias finas de 30-40 mícrons, obstruindo passagem de óleo.

Intervalos de troca vs. condição severa
A GM recomenda 60 meses ou 160.000 km. Entretanto, condições severas – tráfego intenso, partidas frequentes e combustível de qualidade duvidosa – reduzem a vida útil em 50%. Oficina Test-Car, de Curitiba, recomenda inspeção visual a cada 20.000 km.
Caixa de destaque #3 – Sinais de alerta precoce
• Luz âmbar de pressão de óleo piscando.
• Ruído metálico ao dar partida frio.
• Borra escura no pescador.
• Vibração irregular em marcha-lenta.
• Aumento repentino do consumo de combustível.
5. Estratégias da GM e da rede autorizada para mitigar a crise
Campanhas de recall e ações de serviço
Embora não tenha sido oficialmente rotulado como “recall”, a GM emitiu três “Programas de Qualidade” internos: PQ-23-B17, PQ-23-C04 e PQ-24-A02. Nessas campanhas, a concessionária deve trocar correia, polias, bomba de vácuo e filtrar o óleo sem custo ao cliente, além de prolongar a garantia do motor para 5 anos. O prazo médio de reparo foi reduzido de 12 para 8 horas com a introdução do kit de ferramenta rápida.
Treinamento e padronização
Mecânicos receberam treinamento online via plataforma TECHLINE e aulas presencias em Sorocaba (SP). O procedimento inclui:
- Drenagem total do óleo e inspeção com endoscópio.
- Verificação de torque das engrenagens do comando.
- Substituição da tampa do cárter por versão com defletor redesenhado.
- Reprogramação do módulo para novo mapa de pressão de óleo.
Adicionalmente, a GM negocia com fornecedores a introdução de um novo composto de borracha pela Dayco, previsto para equipar a linha 2025.
6. Tendências futuras: o que esperar da engenharia automotiva pós-crise
Tecnologias alternativas
O episódio da correia banhada em óleo colocou em xeque se “somente eficiência” deve nortear o desenvolvimento. Já surgem projetos que retornam à corrente metálica, como o motor 1.2 TSI evo3 da Volkswagen. Paralelamente, soluções 48V mild-hybrid reduzem carga sobre o sistema de acionamento do comando, aliviando tensões.
Caminho elétrico
Enquanto a GM prepara o Blazer EV para o Brasil, especialistas apontam que uma migração acelerada para powertrains elétricos eliminará correias e correntes. No entanto, até 2030 a frota térmica ainda responderá por 85% dos licenciamentos, exigindo que fabricantes aperfeiçoem componentes convencionais.
Para o consumidor, a lição é clara: ler o manual, seguir especificações de óleo e acompanhar boletins de serviço. A era da informação instantânea, exemplificada pelo vídeo do canal Wanderson Luis Dicas Automotivas, empodera proprietários e pressiona montadoras a agir rapidamente.
FAQ – Perguntas Frequentes
1. A correia banhada em óleo é insegura?
Não necessariamente; quando projetada corretamente, oferece durabilidade. O problema é específico de alguns lotes do motor CSS Prime.
2. Meu carro está fora da garantia. Tenho direito ao reparo gratuito?
Se o defeito for vício oculto e houver histórico de revisões, o CDC garante reparo sem custo até 90 dias após o defeito se manifestar.
3. Posso trocar a correia por uma versão seca?
Não é viável, pois exigiria novo cárter, retentores e recalibração. A solução recomendada é usar a peça de segunda geração.
4. Qual óleo minimizará o desgaste?
Óleos Dexos1 Gen3, viscosidade 0W-30 ou 5W-30, com menor teor de cálcio, já aprovados pela GM.
5. Como saber se meu chassi está na lista de campanha?
Consulte o site da Chevrolet com número do chassi ou ligue 0800-702-4200.
6. Vale a pena vender meu Onix agora?
Depende. O mercado absorveu parte do risco e paga 7% menos. Se o carro estiver revisado e com correia nova, a depreciação é menor.
7. Quanto custa a troca fora da garantia?
Média de R$ 3.800 a R$ 6.000, incluindo mão de obra e peças originais.
8. Há risco de perder a cobertura da seguradora?
Não, seguradoras cobrem colisão. Danos por vício de fabricação não são contemplados, mas não invalidam a apólice.
CONCLUSÃO
Resumo dos principais pontos
- Correia banhada em óleo oferece benefícios, mas falhou em parte dos motores Chevrolet 1.0 turbo.
- Contaminação do óleo gerou retorno de milhares de veículos aos pátios da GM.
- Consumidores enfrentaram atrasos, perda de mobilidade e custos indiretos.
- A GM lançou campanhas de serviço, revisou material da correia e treinou rede autorizada.
- Futuro aponta para correntes metálicas revisadas ou eletrificação.
Se você possui um Onix, Onix Plus ou Tracker 1.0 turbo, acompanhe os boletins, faça revisões dentro do prazo e exija registro fotográfico da correia. Participe também das comunidades online: informação é a melhor ferramenta de proteção.
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Créditos: Dados e inspirações baseados no vídeo “CHEVROLET ESTÁ COM PÁTIOS LOTADOS! É CULPA DA CORREIA BANHADA ÓLEO! DESESPERO?” do canal Wanderson Luis Dicas Automotivas.