Imagens que desafiam a lógica e a física. Uma cena de destruição total que, por todos os prognósticos, deveria ter um final trágico. Mas o que aconteceu na BR-101, em Alagoas, é a prova de que, por vezes, a vida se agarra por um fio e reescreve seu próprio destino. Uma família inteira, com duas crianças e uma avó, teve seu carro transformado em um amontoado de metal retorcido entre duas carretas e, de forma inexplicável, sobreviveu para contar a história.
A Viagem Interrompida
Tudo começou como um fim de semana feliz. A família Pereira – pai, mãe, um filho de 7 anos, uma filha de 12 e a avó – voltava para casa em Colônia Leopoldina após uma festa em Maceió. Imagens de segurança registraram o momento em que todos entraram na caminhonete prata, iniciando uma viagem que seria brutalmente interrompida.
Na altura da cidade de Joaquim Gomes, a BR-101 passava por obras de duplicação, operando no sistema “Pare e Siga”. A caminhonete da família era a última de uma fila de veículos parados, aguardando a liberação da pista. Foi quando o impensável aconteceu.
O Impacto Devastador
Por volta das 9h da manhã, uma carreta desgovernada, que vinha logo atrás, não conseguiu frear após uma curva. O gigante de aço atingiu em cheio a traseira da caminhonete da família, prensando-a de forma violenta contra a traseira de outro caminhão que estava à frente.
O resultado foi catastrófico. O veículo foi completamente esmagado, reduzido a uma fração de seu tamanho original. O impacto foi tão forte que desencadeou um engavetamento envolvendo oito veículos.
“Tem um carro embaixo da carreta!”
O caos se instalou na rodovia. Vídeos gravados por testemunhas no local mostram o desespero e a incredulidade. “Tem um carro embaixo da carreta!”, gritava um homem, enquanto outros tentavam entender a dimensão da tragédia.
As cenas do resgate são angustiantes. Em meio às ferragens, o rosto do pai, o dentista Carlos Henrique, aparece em uma pequena abertura. Consciente, ele conversa com as pessoas que tentavam ajudar, informando que toda a sua família estava presa com ele. Atrás de sua cabeça, as pequenas mãos de uma das crianças podiam ser vistas.
O Milagre da Sobrevivência
A operação de resgate, que envolveu bombeiros e até helicópteros, durou cerca de duas horas. Contra todas as probabilidades, todos os cinco ocupantes do carro foram retirados com vida.
Dias depois, em casa, a família exibe as marcas físicas do acidente: gessos, curativos e a necessidade de muletas. Mas as cicatrizes mais profundas estão na memória. “Eu só senti a pancada e apaguei. Quando acordei, só via um monte de ferragens”, relatou Carlos Henrique.
O filho mais novo, Pedro, de 7 anos, que fraturou a mandíbula, perguntou a um dos socorristas: “Moço, isso é um sonho?”. A resposta negativa o fez entrar em desespero. “Segura a minha mão”, pedia o garoto, em um relato que corta o coração.
A Investigação: Falha Humana ou da Via?
A investigação aponta para uma série de fatores. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o motorista da carreta que causou o acidente havia sido notificado na noite anterior por não cumprir a “Lei do Descanso”, que obriga uma parada de 11 horas a cada 24 horas de jornada. Após a colisão, ele fugiu do local, apresentando-se à polícia apenas dois dias depois.
Em sua defesa, o motorista e seu advogado alegam que houve uma falha na sinalização da obra na rodovia, o que teria sido um “fator determinante” para o acidente. No entanto, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) rebate, afirmando que o trecho estava devidamente sinalizado com placas, cones e uma equipe de apoio.
Renascidos
Enquanto a investigação segue, a família Pereira se apega à fé para processar o trauma e celebrar a segunda chance que receberam. “Nascemos de novo. Nós vamos comemorar o aniversário duas vezes agora”, disse a mãe, Sâmia Kelly.
Para a família, a sobrevivência foi obra de um milagre. Um lembrete brutal sobre a importância da segurança nas estradas e, ao mesmo tempo, uma história inacreditável de resiliência diante de uma tragédia anunciada.