Você ainda tem extintor de incêndio no carro? Mesmo depois de a obrigatoriedade ter sido abolida em 2015, milhões de motoristas circulam com o equipamento sem saber que ele, agora, pode virar motivo de infração se estiver fora das especificações. Neste artigo de aproximadamente 2 200 palavras, deciframos a legislação, os riscos e as melhores práticas para que você dirija em conformidade com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) – e evite sustos na próxima blitz. Boa leitura!
Um item que saiu de cena, mas não sumiu das multas
Em um país onde as normas de trânsito mudam com frequência, poucos temas geram tanto debate quanto o extintor de incêndio no carro. Até 2015 ele era obrigatório; depois, virou opcional. Entretanto, a Resolução 556/2015 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) manteve uma brecha quase “pegadinha”: se você optar por carregar o equipamento, ele deve obedecer a critérios rígidos de validade, carga, lacre e fixação.
Caso contrário, infração grave, 5 pontos na CNH e multa de R$ 195,23. O paradoxo é que a lei não obriga a presença, mas pune severamente quem leva um extintor inadequado. Este artigo aprofunda o assunto, explica as normas vigentes, traz dicas de manutenção e responde às perguntas mais comuns dos condutores.
1. Breve história da obrigatoriedade do extintor no Brasil
Evolução de 1970 a 2015
Nos anos 1970, boa parte dos automóveis brasileiros ainda usava carburador, distribuidor com platinado e sistema elétrico bem menos confiável. Pequenos vazamentos de combustível, curtos-circuitos e faíscas eram comuns, aumentando a probabilidade de incêndios. O extintor, então, tornou-se obrigatório. Em 1999, o CTB consolidou a exigência. Já em 2004, a Resolução 157/2004 determinou que todos os veículos deveriam portar extintores do tipo ABC, capazes de combater incêndios em materiais sólidos, líquidos inflamáveis e equipamentos elétricos.
Mudança na tecnologia automotiva
A evolução da injeção eletrônica, o fim do platinado e a entrada de novos materiais reduziram drasticamente os focos de fogo nos carros modernos. Estudos do Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi) indicam queda de 70 % nos incêndios veiculares entre 2005 e 2014. Diante desses números, o Contran revogou em 2015 a obrigatoriedade, alinhando-se às tendências internacionais. Vale lembrar que em países como Estados Unidos, Alemanha e Japão, o extintor de incêndio já era opcional há décadas.
2. O que diz a lei hoje: opcionalidade com responsabilidade
Extintor não obrigatório – mas fiscalizável
A Resolução 556/2015 define que automóveis de passeio, utilitários e caminhonetes não precisam mais portar extintor. Porém, a regra tem exceções para veículos de transporte de passageiros (ônibus, micro-ônibus e alguns escolares), caminhões-tanque e máquinas agrícolas que utilizem chamas abertas. Para quem dirige carros de passeio, a presença do extintor é facultativa. O detalhe é: se houver, a fiscalização passa a inspecionar o estado do equipamento.
Obrigação de conformidade se o extintor estiver presente
Os requisitos incluem: modelo ABC, capacidade de 1 kg, lacre intacto, manômetro na faixa verde, instruções legíveis, suporte metálico apropriado e data de fabricação inferior a 5 anos ou de recarga válida. O descumprimento enquadra-se no art. 230, inciso IX do CTB – “Veículo sem equipamento obrigatório em condições” –, com penalidade de multa grave.
3. Utilidade prática: vale a pena carregar o extintor?
Estatísticas de incêndio veicular
Segundo a Seguradora Líder (DPVAT), ocorrem em média 2 000 incêndios veiculares por ano no Brasil, número baixo quando comparado aos 44 milhões de automóveis em circulação. Estudos mostram que menos de 15 % desses incêndios poderiam ser extintos com o equipamento portátil de 1 kg, devido à rapidez de propagação das chamas. Assim, muitos especialistas consideram o extintor um “falso sentimento de segurança”.
Casos reais e exceções
Apesar da baixa incidência, há relatos de motoristas que evitaram grandes prejuízos graças ao extintor. Por exemplo, em 2022 um táxi híbrido em São Paulo teve o compartimento do motor incendiado. O condutor usou o extintor e conteve as chamas antes da chegada do Corpo de Bombeiros, evitando perda total. Ou seja, embora raro, o equipamento pode salvar vidas e patrimônio, desde que operado corretamente.
“O extintor veicular é como o colete salva-vidas no barco: você espera nunca usar, mas, se precisar, é melhor que funcione.”
— Eng. Ricardo Gonçalves, consultor do Cesvi Brasil
4. Fiscalização, códigos de infração e valores de multa
Como o agente verifica o equipamento
Durante blitz, o fiscal observa se existe extintor de incêndio no carro. Caso exista, checa: lacre, manômetro, data de validade e fixação. Se algo estiver irregular, aplica a penalidade. Se não existir extintor, o veículo é liberado (exceto nas categorias obrigatórias). Esse paradoxo gera situações curiosas: motoristas descartam extintores vencidos na véspera de viagens para evitar multas.
Valores e pontuação
A infração grave do art. 230 custa R$ 195,23, cinco pontos e retenção do veículo até a regularização. Em 2023, o Denatran registrou 18 440 multas por extintor irregular, número que comprova a relevância do tema.
Item verificado | Condição exigida | Consequência se irregular |
---|---|---|
Lacre | Intacto | Multa grave + 5 pontos |
Manômetro | Faixa verde | Retenção até substituição |
Validade | Até 5 anos ou recarga válida | Multa + substituição |
Fixação | Suporte metálico original | Retenção |
Rótulo | Instruções legíveis | Advertência ou multa |
Modelo | Tipo ABC 1 kg | Multa + apreensão do extintor |
5. Boas práticas para quem decide manter o extintor de incêndio no carro
Manutenção correta
Se você prefere a segurança adicional, siga estas orientações:
- Compre somente extintor homologado pelo Inmetro (selo redondo).
- Verifique a faixa verde do manômetro a cada 30 dias.
- Realize a recarga anual em oficinas credenciadas.
- Substitua o cilindro obrigatoriamente após 5 anos da data de fabricação.
- Mantenha o suporte firme, evitando vibrações.
- Aprenda a usar: puxe a trava, aponte para a base do fogo e acione.
- Descarte em locais apropriados quando vencido (lojas de extintores ou ecopontos).
Escolhendo o modelo ideal
- Extintor ABC de 1 kg é o único aceito para carros de passeio.
- Marcas renomadas reduzem risco de falha.
- Cilindro de aço carbono oferece maior resistência mecânica.
- Modelos com manômetro 360° facilitam leitura por qualquer ângulo.
- Verifique se a mangueira possui bico ergonômico para direcionar o jato.

6. Impacto econômico e ambiental do descarte de extintores
Custos diretos para o motorista
Um extintor novo custa entre R$ 70 e R$ 120. A recarga anual sai por R$ 35 a R$ 50. Se o condutor for multado, perde em média R$ 195,23 mais eventuais custos de guincho se o veículo for retido. Comparar esses números ao baixo risco de incêndio leva muitos a abrir mão do dispositivo.
Descarte responsável
O pó químico seco contido no extintor de incêndio no carro é classificado como resíduo perigoso. O cilindro de aço, por sua vez, é reciclável. O correto é entregar o equipamento vencido a empresas de manutenção de extintores ou aos pontos de coleta de resíduos perigosos das prefeituras. Jogar em lixo comum contamina solo e lençóis freáticos.
7. Tendências globais: tecnologias que podem substituir o extintor portátil
Sistemas automáticos e materiais retardantes
Carros elétricos e híbridos desafiam as soluções tradicionais de combate a incêndio, pois as baterias de íons de lítio entram em “fuga térmica”. Fabricantes estudam sistemas automáticos de aspersão interna com espuma AFFF ou gases inertes. Outra vertente é o uso de materiais retardantes de chama no cofre do motor, reduzindo a propagação do fogo.
Espumas pressurizadas e cápsulas
Na Europa, startups desenvolvem cápsulas que se rompem com o calor e liberam agente extintor diretamente no foco. Esses dispositivos de baixo custo podem tornar obsoleto o extintor de incêndio no carro dentro de alguns anos.
FAQ – Perguntas frequentes sobre extintor de incêndio no carro
1. Meu carro zero-km vem sem extintor. Posso ser multado?
Não. Desde 2015, o item não é obrigatório para carros de passeio. A multa só ocorre se você instalar um extintor fora das especificações.
2. Posso usar extintor tipo BC que restou da era anterior?
Não. Se optar por carregar extintor, ele deve ser exclusivamente do tipo ABC. Tipos BC ou classe D geram multa.
3. Qual a validade oficial de um extintor ABC de 1 kg?
Cinco anos após a data de fabricação gravada no cilindro. Durante esse período, é preciso recarregar anualmente ou sempre que o manômetro sair da faixa verde.
4. O policial pode abrir meu porta-malas para procurar extintor?
Em abordagem rotineira, a verificação visual é externa. Contudo, se houver fundada suspeita de irregularidades, o agente pode solicitar abertura do porta-malas.
5. Se eu descartar o extintor antes da blitz, serei autuado?
Não, desde que o veículo seja de categoria liberada da obrigatoriedade. Porém, atirar o equipamento na via é crime ambiental.
6. Extintor vencido afeta a indenização do seguro?
Normalmente, seguradoras não negam cobertura por ausência de extintor em carros de passeio. Mas, em empresas de transporte, a não conformidade pode implicar responsabilidade do operador.
7. Como identificar se a recarga foi feita em empresa idônea?
Exija nota fiscal, selo do Inmetro e etiqueta de inspeção com CNPJ. A falta desses itens indica serviço clandestino.
8. Extintor pressurizado no calor do porta-luvas pode explodir?
Os cilindros são testados a 55 °C. Em condições normais, não há risco de explosão. Evite deixá-lo exposto ao sol direto no painel.
Conclusão
Em resumo:
- Extintor de incêndio no carro não é mais obrigatório, mas, se presente, deve estar 100 % regular.
- Fiscalizações multam com vigor equipamentos vencidos, descarregados ou fora de padrão.
- O risco de incêndio em carros modernos é baixo, contudo o extintor pode salvar patrimônio em situações pontuais.
- Manter, recarregar e descartar corretamente evita penalidades e impacto ambiental.
- Tendências tecnológicas apontam para sistemas automáticos e materiais retardantes.
Você tem agora todas as informações para decidir: remover ou manter o extintor? Seja qual for a escolha, a regra é clara: cumpra a legislação e dirija tranquilo. Se curtiu o conteúdo, compartilhe com seus amigos motoristas e inscreva-se no canal AutoPapo para mais dicas práticas. Afinal, conhecimento no trânsito também salva vidas!
Créditos: Este artigo foi inspirado no vídeo “TEM EXTINTOR NO CARRO? VOCÊ PODE SER MULTADO!” do canal AutoPapo.