A Voz que Acompanhou Gerações
Íris Lettieri Costa, falecida aos 84 anos, deixou um legado inestimável na memória dos brasileiros. Conhecida como a voz oficial dos aeroportos, sua presença sonora marcou a experiência de viagem de milhões de passageiros. Desde a década de 1970, Íris foi a responsável por anunciar as partidas e chegadas de voos no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, e posteriormente em outros aeroportos importantes do país, como Guarulhos, Congonhas, Eduardo Gomes e Foz de Iguaçu.
Contratada pela Infraero em 1976, Íris transformou o ato de anunciar voos em uma verdadeira arte. Sua voz, descrita como macia e sensual, foi cuidadosamente modulada para transmitir tranquilidade e segurança aos passageiros. Este estilo único foi pensado para que ninguém perdesse os detalhes importantes dos anúncios, tornando sua presença invisível, mas essencial, nos aeroportos.
A Voz Além dos Aeroportos
Antes de se tornar a voz dos aeroportos, Íris já era conhecida no rádio. Ela foi a voz feminina que marcava a hora certa na Rádio Relógio, uma experiência que levou muitos ouvintes a imaginar que ela vivia confinada em um estúdio, repetindo a hora a cada minuto. Essa ilusão só reforça o impacto que sua voz teve na vida cotidiana das pessoas.
Em 1992, sua voz ultrapassou as fronteiras do Brasil de maneira inusitada. A banda americana Faith no More utilizou uma gravação sua na música ‘Crack Hitler’, do álbum ‘Angel Dust’, sem autorização. Íris tentou processar o grupo por apropriação indevida, mas não obteve sucesso. Este episódio, embora polêmico, ilustra o reconhecimento internacional de sua voz.
Um Patrimônio Cultural
A importância de Íris Lettieri para a cultura carioca foi tamanha que, em certa ocasião, o prefeito Eduardo Paes sugeriu que ela fosse considerada um ‘patrimônio imaterial’ do Rio de Janeiro. Sua voz, de fato, se tornou parte da memória afetiva de muitos cariocas e brasileiros, uma presença constante e reconfortante em momentos de ansiedade e expectativa nos aeroportos.
Apesar de gravar anúncios em várias línguas, como inglês, francês, espanhol e italiano, Íris não falava nenhum desses idiomas. Sua habilidade em reproduzir a pronúncia correta demonstrava uma técnica profissional admirável, evidenciando seu talento e dedicação ao ofício.
A Voz que Virou Arte
Em 2019, ao completar 60 anos de carreira, Íris Lettieri foi convidada pelo artista Cildo Meireles para participar de uma obra de arte sonora. Sua voz foi eternizada em um disco intitulado ‘Isto’, onde repetia frases como ‘Isto está sumindo’, ‘Isto está desaparecendo’, ‘Isto está se apagando’, ‘Isto está acabando’. Este projeto artístico não só celebrou sua carreira, mas também destacou a influência de sua voz na cultura brasileira.
Íris costumava contar que, apesar de sua voz ser amplamente reconhecida, seu rosto não era tão conhecido. Em uma anedota divertida, ela relembra um encontro com um taxista que, ao ouvir sua voz, perguntou se ela era a ‘moça do aeroporto’. Com humor, Íris respondeu afirmativamente, brincando sobre a responsabilidade de um possível atraso do passageiro.
Sim, sou eu. Não me culpe se você está atrasado para o voo.
| Ano | Evento |
|---|---|
| 1976 | Contratada pela Infraero como a voz dos aeroportos |
| 1992 | Voz utilizada pela banda Faith no More |
| 2019 | Participação na obra de arte ‘Isto’ de Cildo Meireles |
Fonte: vejario.abril.com.br