A desaceleração das vendas de veículos elétricos levou a União Europeia a reconsiderar a exigência de que todos os carros novos comercializados a partir de 2035 tenham emissão zero.
O debate ganhou força após a Ford Motor anunciar, na segunda-feira (15), uma baixa contábil de US$ 19,5 bilhões (cerca de R$ 110 bilhões) ao cancelar projetos de novos modelos elétricos. A empresa atribuiu a decisão ao ambiente político nos Estados Unidos e à retração da demanda.
Na Europa, grupos como Volkswagen e Stellantis passaram a admitir publicamente que o mercado de elétricos perdeu fôlego. Paralelamente, as montadoras intensificaram a pressão por metas ambientais menos rígidas e sanções mais brandas em caso de descumprimento das regras da União Europeia.
A Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA) avalia que o setor enfrenta “momento sensível”. Montadoras alemãs, por exemplo, vêm perdendo participação na China e agora encaram concorrência direta de veículos chineses no próprio território europeu. Segundo a agência Reuters, as tarifas impostas pelo bloco a carros elétricos importados da China tiveram efeito limitado.
Custos de produção elevados, baixa escala e guerra de preços reduziram as margens das fabricantes locais, colocando em dúvida os objetivos de emissões para a próxima década. Hoje, a legislação determina que, a partir de 2035, apenas veículos de emissão zero sejam vendidos, mas propostas em Bruxelas sugerem flexibilizar essa meta.
Parte da indústria teme que um recuo comprometa a competitividade tecnológica europeia. “Sair de 100% para 90% pode parecer pouco, mas qualquer retrocesso prejudicará o clima e a capacidade de a Europa competir”, afirmou Michael Lohscheller, presidente-executivo da sueca Polestar.
Organizações ambientais compartilham essa preocupação. Para William Todts, diretor-executivo da Transport & Environment (T&E), o continente já está atrás da China e insistir no motor a combustão não resolve os problemas estruturais do setor automotivo europeu.
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Enquanto isso, a Comissão Europeia busca estimular a demanda por outra via. Frotas corporativas respondem por cerca de 60% das vendas de carros novos no bloco, e a proposta em discussão prevê metas nacionais para 2030 e 2035 ajustadas ao PIB per capita de cada país, cabendo aos governos escolher os mecanismos de incentivo.
Representantes do setor citam os benefícios fiscais adotados pela Bélgica para carros de empresas como exemplo viável. Também está em análise a criação de uma categoria regulatória específica para veículos elétricos de pequeno porte, com regras mais flexíveis e créditos adicionais de CO₂, desde que os modelos sejam produzidos dentro da União Europeia.
A estratégia, nos bastidores, é vista como tentativa de proteger a indústria local da crescente presença asiática.
Com informações de Carros iG