Em um movimento estratégico que abalou o cenário energético global, a China e o Canadá firmaram um acordo significativo de fornecimento de petróleo. Este desenvolvimento ocorre em meio a tensões comerciais crescentes entre os Estados Unidos e seus parceiros tradicionais. A proposta do então presidente Donald Trump de impor uma tarifa de 10% sobre o petróleo e gás canadense desencadeou uma série de eventos que culminaram na reconfiguração das relações comerciais na América do Norte e além.
Expansão do Oleoduto Transmountain
O oleoduto Transmountain (TMX) desempenha um papel central na nova dinâmica energética do Canadá. Com sua expansão concluída no início de 2024, a capacidade de transporte do oleoduto aumentou de 300.000 para 890.000 barris por dia. Esta infraestrutura crucial conecta Alberta à costa do Pacífico na Colúmbia Britânica, proporcionando aos produtores canadenses acesso direto ao mercado asiático. Historicamente, o Canadá dependia quase exclusivamente dos Estados Unidos como comprador de seu petróleo, mas a ampliação do TMX representa uma mudança estratégica, permitindo o envio direto de petróleo bruto para mercados como China, Japão e Coreia do Sul.
China e Canadá: Uma Nova Aliança Energética
A resposta do Canadá às ameaças tarifárias dos Estados Unidos foi rápida e decisiva. A petroquímica chinesa Hong Shan estabeleceu um escritório em Calgary e firmou um acordo de fornecimento de petróleo bruto com a Suncor, uma das principais empresas de energia do Canadá. Este acordo não é apenas um detalhe comercial, mas um sinal de uma transformação significativa no equilíbrio global da energia. A Hong Shan, sob a liderança de Anggia, veterano do setor, está avançando agressivamente no mercado energético canadense, adotando acordos sem Free on Board (FOB) para maior flexibilidade logística.
Recalculando a Dependência dos EUA
A proposta de tarifas de Trump serviu como um alerta para o Canadá, que exportou cerca de 1,76 bilhão de dólares canadenses em energia em 2024, com 97% desse volume destinado aos Estados Unidos. Essa dependência excessiva deixou o setor vulnerável, exigindo uma resposta rápida de diversificação. O governo canadense lançou um pacote de incentivo de 6,5 bilhões de dólares para ajudar exportadores a acessar novos mercados, enquanto a indústria, por sua vez, não esperou por políticas governamentais para agir.
O Papel do Gás Natural Liquefeito (GNL)
Além do petróleo, o gás natural está se tornando uma peça central na transformação energética do Canadá. O projeto LNG Canadá, localizado em Kitimat, Colúmbia Britânica, está acelerando sua operação para iniciar as primeiras exportações até o final de 2025. Com o apoio de gigantes como Shell e PetroChina, essa iniciativa marca a entrada mais significativa do Canadá nos mercados asiáticos de gás natural, que estão em rápida expansão.

Impactos Geopolíticos e Comerciais
Os laços energéticos do Canadá com a China se fortalecem em um momento de crescente tensão no comércio norte-americano. Tarifas, disputas políticas e medidas de retaliação transformaram o petróleo em um ativo estratégico. As ameaças tarifárias do governo Trump colocam o fornecimento de petróleo canadense para os Estados Unidos em risco, pressionando refinarias americanas a buscar alternativas mais caras e desencadeando impactos em toda a economia.
Conclusão
O acordo entre China e Canadá sinaliza uma nova era para o setor energético canadense, com o país se reposicionando como um competidor global. Enquanto os Estados Unidos enfrentam desafios devido a barreiras comerciais, a Ásia ganha um fornecedor confiável de petróleo e gás. O Canadá avança com uma estratégia ambiciosa para se tornar um player global de energia, mas o futuro ainda traz questões cruciais sobre liderança, parcerias e responsabilidade ambiental. A transformação energética do Canadá vai além de contratos de petróleo e novos oleodutos, tratando-se de um realinhamento estratégico no cenário global.