A China está direcionando sua capacidade excedente de produção automobilística para países com menor poder aquisitivo, enviando volumes recordes de veículos a gasolina que já não encontram compradores no mercado interno, indica investigação da agência Reuters.
Superprodução direcionada ao exterior
Desde 2020, 76% das exportações automotivas chinesas são de modelos movidos a combustíveis fósseis. O total anual embarcado subiu de 1 milhão para mais de 6,5 milhões de unidades em poucos anos, resultado direto de fábricas ociosas criadas sob fortes subsídios governamentais voltados originalmente a veículos elétricos.
A mudança rápida do consumidor chinês para elétricos e híbridos plug-in deixou espaço para produzir até 20 milhões de carros a gasolina por ano, segundo estimativas citadas pela reportagem. Para escoar esse excedente, montadoras estatais e privadas recorrem a mercados com menor regulação ambiental e infraestrutura de recarga ainda incipiente.
Destinos prioritários
México, Chile, Uruguai, África do Sul, Rússia e países da Europa Oriental, como a Polônia, absorvem a maior parte desses veículos. Protegidos por tarifas, Estados Unidos e Europa Ocidental ficam fora desse fluxo.
No México, as vendas de carros chineses devem superar 200 mil unidades e atingir participação de mercado de cerca de 14% neste ano. O avanço levou o governo mexicano a elevar a tarifa sobre automóveis chineses de 20% para 50%.
Na África do Sul, as marcas da China já detêm aproximadamente 16% das vendas: em um semestre, quase 30 mil carros a combustão foram comercializados, contra apenas 11 elétricos. No Chile, os chineses respondem por cerca de um terço do mercado, pressionando rivais tradicionais como Chevrolet, Nissan e Volkswagen, que registraram recuos entre 34% e 45% nas vendas.
Impacto sobre montadoras e metas climáticas
Grupos estatais como SAIC, BAIC, Dongfeng e Changan viram as entregas domésticas desabar. O caso da SAIC-GM ilustra o quadro: as vendas internas caíram de mais de 1,4 milhão para 435 mil veículos entre 2020 e 2024, enquanto as exportações da companhia cresceram de cerca de 400 mil para mais de 1 milhão de unidades anuais.
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Consultoria citada pela Reuters, a AlixPartners prevê que as montadoras chinesas adicionem 4 milhões de carros por ano às vendas externas até 2030. Considerando o desempenho dentro e fora da China, essas empresas podem alcançar 30% de participação na indústria global em cinco anos.
Especialistas ouvidos ressaltam que a enxurrada de carros a gasolina posterga metas de redução de emissões em nações que já enfrentam dificuldades para implantar infraestrutura de recarga. Mesmo quando levam elétricos no portfólio, as marcas chinesas apostam no curto prazo nos motores a combustão, sobretudo em SUVs e picapes.
Executivos entrevistados admitem que o crescimento fora da China tende a ocorrer “à custa de todos os outros” fabricantes, intensificando a competição em mercados emergentes e prolongando a dependência de combustíveis fósseis.
Com informações de IG Carros